Carlos José Arruda
Professor







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Artigos e Opiniões - Vinhos

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10-maio-10   CARLOS ARRUDA

Arquiteto, web designer, enófilo, professor, intérprete francofone, consultor comercial e autor de artigos sobre vinhos, criador e diretor do site Academia do Vinho.

Um pouco de História

Os vinhos rosés viveram uma época de ostracismo, um descaso mundial difícil de explicar. Talvez isso tenha coincidido com a entrada dos tintos poderosos do Novo Mundo no mercado mundial, mas o fato é que os consumidores de todo o mundo abandonaram os rosés durante algum tempo, surgindo nessa fase o conceito de vinhos menores.

Essa situação merece uma revisão da história da região mais famosa e tradicional dos rosés, a Provence, no sul da França. Marseille, a capital da Provence, foi fundada pelos Fenícios por volta de 600 a.C, na mesma época em que a uva vinífera foi levada para a França. Assim, a Provence abrigou os primeiros vinhedos franceses.

Falando de tecnologia (ou da falta dela), os vinhos da antiguidade eram possivelmente todos rosés, pois não havia tecnologia nem para fazer brancos aromáticos nem tintos profundos. O vinho era produzido quase que espontaneamente e provavelmente assumia uma coloração e corpo médios, um vinho rosado-turvo e rústico.

Os Romanos chamaram a região de Provincia Romana (daí Provence), batizaram as cidades de Acque Sextie (Aix-en-Provence) e Forum Julii (Fréjus) e dali levaram a vinicultura para as regiões internas - Rhône, Beujolais, Gascogne e Bordeaux. Até hoje a Provence tem nos rosés seus principais vinhos: leves, encantadores, elegantes e muito frescos, adaptados ao clima mediterrâneo da região.

Outro país com grande tradição de rosés é a Espanha, sendo esses inclusive os vinhos indicados para acompanhar a Paella de frutos do mar, prato tradicional das regiões mediterrâneas.

Na produção moderna de tintos encorpados, uma das técnicas de concentração de cores e componentes muito usada é a sangria - a retirada de parte do suco das uvas tintas menos concentrado pelo fundo do tanque, algumas horas após o início da fermentação, concentrando assim mais cascas em menos líquido.

O sub-produto desse procedimento é um mosto leve e rosado, do qual habitualmente se fazem destilados ou vinhos rosés de baixa qualidade, vindo daí parte do conceito negativo adquirido pelos vinhos rosés. É muito importante ressaltar que os bons rosés são produzidos especificamente para ser rosés, o que traz uma enorme diferença de qualidade ao produto final.

Rosés são brancos coloridos ?

Não. Rosés são produzidos a partir de uvas tintas. Deixa-se as cascas das uvas junto com o suco nas primeiras horas da fermentação, passando assim pequena quantidade de cor (e taninos) ao vinho. Escoa-se então o líquido rosado e a fermentação é completada usando-se técnicas de vinhos brancos - fermentação em baixas temperaturas, principalmente - com o objetivo de preservar as características de frescor e aroma que esse processo possibilita.

As principais qualidades obtidas são o frescor, pela preservação da acidez natural das uvas frescas e os aromas e sabores de frutas vermelhas frescas - cereja, framboesa, groselha, morango - marca inconfundível dos rosés.

Dessa forma, devemos encarar os rosés como vinhos tintos leves (ou meio-leves) de acordo com a profundidade da presença da cor (e taninos) resultante. O estilo gustativo segue o dos tintos: Nada de frutas cítricas, mas frutas vermelhas, além de especiarias, couro e outros grupos de aromas típicos dos tintos estão presentes, criando vinhos muito interessantes, versáteis para a gastronomia e que trazem o frescor como marca registrada - um mundo à parte. Como esse processo pode variar bastante, existem vários tipos de rosés.

Os vinhos rosés podem variar muito em estilo, corpo, complexidade e frescor. Cada enólogo cria sua versão desse vinho intrigante, que flutua entre brancos e tintos com grande desenvoltura, apresentando diversos estilos:

Rosés Leves

Quando elaborados com delicadeza e sensibilidade, os rosés surgem como vinhos de grande elegância, se comportando quase como brancos especiais, principalmente por seu grande frescor e notas frutadas, sendo a presença dos taninos praticamente invisível.

Esse é o estilo da maioria dos vinhos franceses da Provence: delicados, aromáticos, elegantes, simplesmente encantadores. Mas não se enganem, podem ser vinhos poderosos com grande potencial gastronômico. Com razão eles se orgulham bastante de seus vinhos.

Rosés Médios

Se o enólogo decidir prolongar a extração de cor por mais tempo, criam-se rosés mais tonalizados, podendo variar de algo mais que rosa-pálido até nuances de salmão ou casca de cebolas (entre rosa e castanho). Esses vinhos formam o grande contingente dos rosés produzidos em todo o mundo, inclusive a grande legião dos rosés recentes, seja do Novo Mundo ou mesmo da Europa.

Sua principal característica é aliar bom corpo a um intenso conjunto aromático e agradável frescor, trazendo aos enófilos um produto muito interessante por sua grande diversidade e pela profusão de combinações gastronômicas possíveis.

Rosés Intensos

Pode-se produzir rosés como se fossem quase tintos, onde a presença de cor e taninos gera vinhos vermelho-claros, tendendo para a coloração outrora denominada de claret pelos ingleses aos vinhos de Bordeaux.

Esses vinhos devem ser encarados como tintos bem leves, não deixando de ser classificados como rosés, mas formando um mundo próprio onde corpo, potência, riqueza de aromas e sabores e ainda frescor formam vinhos muito interessantes do ponto de vista gastronômico, mas que podem variar em aceitação pelos consumidores. Uns gostam muito, outros nem tanto.

São perfeitos para quem aprecia vinhos mais encorpados e potentes e pelos mesmos motivos podem não agradar a quem prefere o estilo mais fresco e frutado dos outros grupos.

Fica a pergunta, qual é o seu estilo ? Experimente vinhos rosés de diferentes tipos em diferentes situações: como aperitivo, acompanhando refeições leves, petiscos ou sobremesas e descubra o que mais lhe agrada.

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