Carlos José Arruda
Professor







MENU TOPO Academia do Vinho

Artigos e Opiniões - Vinhos

Voltar

10-abril-14   CARLOS ARRUDA

Arquiteto, web designer, enófilo, professor, intérprete francofone, consultor comercial e autor de artigos sobre vinhos, criador e diretor do site Academia do Vinho.

Texto elaborado e gentilmente cedido por Eduardo Torres, enófilo, estudioso e pesquisador do vinho, emérito participante do Forum Enológico desde sua criação em 1998.

A historia dessa vinícola é bem interessante.

É uma das mais antigas vinícolas da Califórnia, fundada em 1879 por um capitão de navio finlandês chamado Gustave Niebaum, que decidiu deitar raízes (no sentido figurado e, no caso das vinhas que plantou, literal) na região.

Decidiu dar-lhe o nome de Inglenook Winery, que também era conhecida como Chateau Inglenook.

(`Inglenook´ é uma palavra de origem escocesa - gaélica - que significa ´lugar acolhedor´ ou ´lugar confortável´ ou ´lugar aconchegante`).

(Não se sabe por que o capitão Niebaum, finlandês, escolheu uma expressão escocesa para nomear sua nova vinícola).

Passou a fazer bons vinhos, mas na época sem chamar muita atenção.

Niebaum morreu em 1908, e a vinícola fechou durante a Lei Seca (1920 a 1933). Depois do fim da Proibição, a viúva de Niebaum, Suzanne, reabriu a Inglenook e contratou competentes viticultor e enólogo pra dar um upgrade na casa.

Suzanne morreu em 1936, e após sua morte a Inglenook passou a ser dirigida pelo seu sobrinho-neto John Daniel Jr.,, posição que foi oficializada em 1939.

Nos anos 40 os vinhos da Inglenook passaram a ser considerados como dos melhores californianos, inclusive premiados em concursos internacionais e elogiados até na Franca.

A produção seguiu bem até o inicio dos anos 60, quando a Inglenook começou a decair e depois cessou suas atividades, tendo sido vendida em 1964 por US$ 1,2 milhões a Louis Petri, fundador da Allied Grape Growers and United Vintners, então o maior produtor de vinhos da Califórnia.

Apesar das promessas de Petri, logo a sua empresa passou a usar a Inglenook pra fazer vinhos baratos, para serem vendidos a granel e servidos em jarras.

Em 1969 Petri vendeu a Inglenook (ou o que havia sobrado dela) para o conglomerado de bebidas Heublein.

Em 1975, a Heublein colocou à venda parte da propriedade.

Nesse momento (sim, a historia continua, e agora é que vem a melhor parte), o diretor de cinema Francis Ford Coppola , querendo investir a grana que ganhou com o filme O Poderoso Chefão de 1974, comprou da Heublein, junto com sua esposa Eleonor, 600 hectares das terras da antiga Inglenook, para iniciar sua carreira alternativa de vinhateiro (algumas más línguas dizem que hoje Coppola fatura mais com vinhos que com filmes...)

;-)

A Heublein manteve o resto das terras (40 hectares), onde se situava o histórico chateau-sede da vinícola, e a marca ´Inglenook´.

E continuou a fazer vinhos baratos de qualidade inferior, comprados a granel, misturados sem maior critério, mas agora engarrafados com a icônica marca Inglenook no rotulo.

(Dizem que na época o velho capitão Niebaum passou a se revolver irado em sua tumba, mas pouco podia fazer no Além...)

;-)

Coppola produziu seus primeiros vinhos nas suas novas terras em 1977.

E tomou gosto pela coisa.

Continuando a rocambolesca historia da Inglenook: A Heublein foi depois comprada pela RJR Nabisco, que a revendeu a seguir à Grand Metropolitan em 1987, que por sua vez vendeu em 1994 a vinícola, o chateau e as terras remanescentes à Canandaigua Wine Company (que depois mudaria o nome para Constellation Brands).

A Canandaigua então revendeu tudo (exceto a marca Inglenook ) em 1995 pra Coppola, que queria há anos recriar a velha Inglenook .

Não podendo ainda usar o nome Inglenook, mantido com a Canandaigua, Coppola, na melhor tradição francesa, rebatizou a vinícola com uma combinação de seu nome com o do proprietário-vinhateiro anterior, e a casa passou a se chamar Niebaum-Coppola Estate Winery.

Em 2006, Coppola mudou o nome da vinicola para Rubicon Estate Winery.

Em janeiro de 2008 o conglomerado de vinhos The Wine Group comprou da Constellation Brands a marca Inglenook, junto com algumas instalações do grupo, por US$ 134 milhões.

Mas Coppola não havia desistido de ter um dia a velha marca Inglenook em seus vinhos, o que finalmente conseguiu em 2011, quando comprou a marca do The Wine Group, e o nome Rubicon mudou para Inglenook, realizando o velho sonho.

Nunca foi revelado quanto Coppola teve que pagar ao The Wine Group pela marca Inglenook, mas na época ele declarou à imprensa que a marca custou mais que todo o Estate, chateau incluído (que havia custado até aquela época U$ 46 milhões.)

Mas a historia ainda não acabou.

Tem outra historia pitoresca dentro da historia principal: Lá pelo final de 2002 ou inicio de 2003, empregados da então vinicola Niebaum-Coppola estavam limpando uma parte ainda não inspecionada da adega desativada do velho Chateau Inglenook, para criar um deposito para figurinos e props de filmes antigos de Coppola, quando acharam, nada mais, nada menos que velhas garrafas intocadas de vinho Inglenook!

Sommeliers profissionais e jornalistas especializados em vinho foram chamados à vinícola e constataram o valor da descoberta, que revelava vinhos que poucos vivos haviam provado, e vinhos feitos segundo técnicas e estilo que estavam havia muito tempo perdidos e que sequer se sabia que existiam ainda.

Por baixo, cada garrafa empoeirada foi estimada em alguns milhares de dólares se fosse leiloada. A Sotheby`s avaliou uma delas em no mínimo US$ 14 mil.

O que fez Coppola ao saber da valiosa descoberta? Leiloou as garrafas pra faturar algum? Guardou em sua adega particular para ter um deleite privado com os néctares resgatados do passado perdido? Não.

Coppola organizou uma festa boca livre em sua vinícola, para qual convidou alguns vizinhos vinhateiros, sommeliers, jornalistas e escritores de vinho, chefs de alguns restaurantes e um pequeno grupo de amigos.

Na festa, foram cerimoniosamente abertos e degustados um total de sete raríssimos Inglenooks, o mais velho de 1933 e o mais recente do inicio dos anos 50.

Segundo os presentes, todos os vinhos estavam perfeitos em cor, aroma e sabor. E divinos. O homem sem dúvida tem estilo!

E o velho capitão Niebaum deve estar agora repousando em paz em seu esquife...

© 1997-2024 Academia do Vinho
Aprecie o vinho com moderação
Nenhuma reprodução, publicação ou impressão de textos ou imagens deste site está autorizada