Carlos José Arruda
Professor







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25-janeiro-15   CARLOS ARRUDA

Arquiteto, web designer, enófilo, professor, intérprete francofone, consultor comercial e autor de artigos sobre vinhos, criador e diretor do site Academia do Vinho.

O vinho é um produto da agricultura, e como tal não poderia se furtar ao grande movimento mundial em prol da sustentabilidade.

São práticas agrícolas que buscam reduzir ou evitar o uso de produtos defensivos químicos e também a degradação do meio ambiente. Bacana e necessário, com certeza.

Nesse caso, o que acontece no vinho ? Na verdade, nos vinhedos, onde tudo começa.

Para entendermos as consequências dessas práticas, é importante lembrar que a qualidade e as características de um vinho dependem 90% das uvas e apenas 10% das técnicas de elaboração.

O conceito de terroir, ou personalidade de um certo local, é ditado pelo clima e pelo solo, cada vinho reflete essas características em sua degustação. Um exemplo é o vinho de Chablis, que tem típicas notas minerais provenientes de pequenos fósseis marinhos no solo da região.

Hoje, é consenso entre os vinicultores que essa manifestação do solo, ou do terroir, é mais nítida quando os vinhedos não são tratados com defensivos agrícolas. Fala-se então de vinhedos orgânicos (se forem certificados) ou vinhedos com práticas orgânicas (apenas declaradas pelo produtor).

Tecnicamente o solo se degrada muito menos na agricultura orgânica, daí o termo sustentável. A certificação orgânica é bastante complicada e burocrática, então muitos produtores cuidam bem de seus vinhedos, mas não se interessam por essa qualificação oficial.

Outro ponto importante é que vinhedos (mais) saudáveis produzem vinhos com menos tendência a causar reações alérgicas no organismo, exatamente como vários alimentos.

Posso citar alguns exemplos dessa filosofia sustentável no vinho:

Na Borgonha (França), hoje praticamente todos os vinhedos são trabalhados de forma sustentável, com o objetivo de preservar as características naturais que respondem pela altíssima qualidade dos vinhos ali produzidos. Cavalos substituem tratores no trabalho dos vinhedos, trazendo de quebra um charme nostálgico.

Na Nova Zelândia, só podem ser exportados vinhos resultantes de práticas sustentáveis, fiscalizadas pelo governo. O objetivo é preservar o terroir e produzir vinhos saudáveis.

Na nova vinicultura da África do Sul, os pequenos produtores vêm desenvolvendo práticas sustentáveis nos vinhedos, como diversidade de espécies vegetais, reequilíbrio da flora e fauna microrregional e recuperação de práticas históricas de controle de pragas. O resultado? Mais de 12 anos sem o uso de defensivos e o surgimento de vinhos de grande qualidade e personalidade!

A Itália ostenta hoje o título de celeiro agrícola com quase totalidade de práticas orgânicas e sustentáveis, e os vinicultores abraçam amplamente essa ideia, aprimorando técnicas sustentáveis em seus vinhedos e garantindo assim a personalidade histórica de seus vinhos.

Infelizmente algumas práticas sustentáveis têm custos mais elevados, mas precisamos adotar uma postura positiva para a natureza e para nossa saúde e dar preferência a vinhos provenientes desse movimento.

Como essas práticas nem sempre estão estampadas nos rótulos, vale pesquisar e perguntar aos sommeliers mais detalhes sobre produtores e seus vinhos.

Referências

Fonte: Artigo publicado pelo mesmo autor na Revista Verdemar em janeiro de 2015

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