Carlos José Arruda
Professor







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17-março-14   CARLOS ARRUDA

Arquiteto, web designer, enófilo, professor, intérprete francofone, consultor comercial e autor de artigos sobre vinhos, criador e diretor do site Academia do Vinho.

Portugal é um país de muitas tradições, o vinho sendo uma das mais prestigiadas.

Por séculos o Vinho do Porto representou o papel de vinho ícone mundial, encantando as sociedades da Europa e enriquecendo os produtores do Cais do Porto.

O Vinho Verde, com seu típico estilo fresco e frisante até hoje é um ícone associado ao país de Cabral, reconhecido em todo o mundo.

Em Setúbal, próximo a Lisboa, o vinho Moscatel de Setúbal manteve-se também por muito tempo como um objeto de desejo entre todos os consumidores de vinho.

Apesar de todas as regiões vinícolas de Portugal produzirem vinhos ao longo do mesmo período de tempo, poucas tiveram no passado o prestígio desses vinhos mais famosos e qualificados.

Nas últimas décadas, uma revolução silenciosa vem ocorrendo em Portugal. Novos vinhos, de regiões de pouca visibilidade, se projetaram no cenário mundial, construindo uma nova visão do vinho português. Comento aqui alguns tópicos significativos desse Novo Portugal:

DOURO

A produção do Porto sempre se fez por grandes empresas, a maioria inglesas, que compravam vinhos de inúmeros pequenos produtores para encher seus tonéis centenários.

Há 20-25 anos, com a queda de volumes e preços, diversos desses produtores passaram a produzir seus próprios vinhos, na denominação Douro, usando técnicas e estilos modernos. Isso trouxe um renascimento para a histórica região do Douro e espetaculares tintos para a comunidade mundial.

Alguns produtores adotaram uvas e técnicas fora da tradição, criando vinhos similares aos supertoscanos na Itália, que obtiveram notas e preços elevados. Um novo Douro.

ALENTEJO

A pobre e desértica região interior de Portugal guardava suas surpresas. Uma revolução de ideias de enólogos e produtores pôs no mercado vinhos poderosos, com muita personalidade e um certo estilo que lembra o Novo Mundo.

De preço competitivo, os Vinhos Regionais Alentejanos conquistaram enorme público por sua relação qualidade-preço.

Além desses, o Alentejo apresentou vinhos DOC de categoria, baseados em suas uvas típicas, mas rejuvenescidos por técnicas modernas, como barricas francesas novas. Profundos, intensos e de grande personalidade, têm hoje lugar reservado na crítica mundial.

VINHOS VERDES

Tradicional e única pelo estilo de seus vinhos, a região do Minho ganhou novo fôlego graças a uma campanha de marketing voltada ao publico jovem, convidando a um consumo informal e divertido dos seus vinhos leves e frescos. Essa ação incluiu a adoção de uma garrafa azul clara, que faz os vinhos brancos (amarelados) parecer verdes...

Mas há novidades técnicas. Um movimento de enólogos já faz testes de vinhos verdes com passagem em barrica, sem o tradicional efeito frisante, explorando todo o potencial da sensacional uva Alvarinho. Vinhos sedosos, ricos e complexos, o novo Vinho Verde.

BAIRRADA

Essa região sempre teve seu trabalho centrado na difícil uva tinta Baga, que originalmente gera vinhos muito ácidos e rústicos, apreciados apenas localmente. Novas idéias e novas técnicas enológicas domaram a uva Baga e mostraram tintos modernos e agradáveis, a volta por cima.

Porém, a maior revolução da Bairrada foram os espumantes, produzidos com a mesma Baga mal comportada: sua acidez e estrutura mostraram que ela podia ser a Pinot Noir local. Frescos, estruturados e sedutores, os espumantes rosés da Bairrada já conquistaram seu lugar no mundo das bolhas.

MUDANÇAS

Outras recentes mudanças foram alterações nos nomes das regiões: O Ribatejo agora se chama Tejo, a Estremadura se chama Lisboa, nomes de mais fácil identificação para o mundo.

Também ocorreu uma separação de regiões, que contribuiu para uma melhor identificação de estilos regionais e um crescimento do perfil do vinho português no mundo.

Veja a nova classificação de regiões de Portugal aqui no site da Academia do Vinho

Essas mudanças mostram um desejo de melhor comunicação com o público, usando nomes fáceis e sonoros, tudo isso para alavancar seus vinhos, hoje produzidos com foco em exportação e mais sintonizados com o gosto dos consumidores estrangeiros.

Dessa forma, Portugal se renova, mas guarda suas tradições, mantendo sua personalidade viva e competindo no mercado mundial.

Referências

Fonte: Artigo publicado pelo mesmo autor na Revista Verdemar em abril de 2014

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